Tenho sentido medo das sextas feiras... É nesse dia que a solidão tem se mostrado ultimamente. Ela ronda a semana inteira, mas como não tenho muito tempo pra lhe dar atenção, nos fins de semana ela entra lá em casa pra ficar. Faz com que todos sumam, com que o telefone fique mudo e que a chuva caia fininha... De uns tempos pra cá a solidão tem sido minha companheira fiel. E é com ela que choro, que converso, que ando, que canto. E é com ela que vou dormir, todas as noites...abraçada.

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." (Clarice Lispector)

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,

para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares

e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando

nos ares certos do tempo,

até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Aos meus queridos amigos

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências. A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. É delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí. E me envergonho, porque essa minha prece é em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer. Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que não desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os."

Vinicius de Moraes

Caos!

De que me adianta ler compulsivamente se não consigo produzir nada que preste? Ontem na aula o Régis passou uma atividade valendo 3 pontos, um simples texto com o tema "Ano novo". Levei os 3 pontos (e todo mundo da sala também) mas tenho senso crítico suficiente pra admitir que consegui escrever 25 linhas que traduziam a mais perfeita expressão do ridículo. Vou parar de ler, mudar de curso e identidade! A maneira perfeita de recuperar o prazer de escrever. Nada me afeta mais do que ver as pessoas esperarem muito de mim. Porque sempre me vêem lendo, porque sabem que eu faço Letras e se decepcionam. Já não sou mais a menina das letras e do poema premiado, eu cresci e as minhas habilidades com as palavras estacionaram. Não escrevo bem para uma acadêmica em Letras de 19 anos (quase 20!), não passei para a fase seguinte. Me acomodei com a Flauta Doce e abandonei o sonho de tocar Transversal! Pq eu não comprei outra tela pra pintar de novo depois que a primeira saiu ruim? Porque eu não evoluo? Poeque não amadureço e dou espaço às habilidades? Será que eu tenho realmente alguma boa habilidade? O próximo passo é ler livros de auto-ajuda. Augusto Cury, mantenha-se à distância! quando acontecer terei a certeza de que cheguei no fundo do poço.